Com Selton Mello, Fábio Assunção e a maioria dos — não muitos — globais que têm passado pelo tapete vermelho, houve tietagem e, em alguns momentos, histeria. Com Fernanda Montenegro, homenagens mais sóbrias e uma reverência que fez jus à diva do teatro, do cinema e da televisão no Brasil. Um fã chegou a entregar rosas brancas, que a atriz recebeu com a simpatia que se espera das grandes damas.
Pouco antes de ela chegar ao tapete vermelho, os assessores do festival reuniram jornalistas reiterando que não seria permitido abordá-a — já não havia sido realizada nenhuma entrevista coletiva à tarde, como é comum nas homenagens em Gramado —, e que aquele que ousasse fazer alguma pergunta poderia ser descredenciado do festival. O objetivo era preservar a atriz de 81 anos, que só chegou à Serra à tarde e passaria a noite incomunicável no Kurotel, o mais reservado dos hotéis de Gramado, até voltar a Porto Alegre na manhã seguinte.
O clima de ameaça, no entanto, só persistiu até a chegada da estrela maior deste 39º Festival de Gramado. Fernanda Montenegro atendeu a todos, conversou com quem lhe dirigisse a palavra ao longo dos cerca de 30 minutos em que permaneceu no saguão do Palácio dos Festivais e, quando subiu ao palco do evento para receber o Troféu Oscarito, demonstrou a mesma capacidade de cativar quem está por perto que encantou espectadores ao longo das últimas cinco décadas de dedicação à dramaturgia.
— É interessante como são os caminhos do cinema — disse, olhando para o troféu e fazendo referência a Roberto Farias, que entregou o troféu a ela. — Eu era fã do Oscarito, e Roberto era assistente de direção das chanchadas protagonizadas por ele. E não é só o Oscarito que pode ser um ponto de encontro nosso aqui. Eu sou uma cinemeira. Desde sempre. Vi muito, sonhei muito com Hollywood, um dia até bati lá. Mas faz muito tempo...
De A Falecida (1964) até O Amor nos Tempos do Cólera (2007), passando por Tudo Bem (1978), Eles Não Usam Black Tie (1980) e Central do Brasil (1998), Fernanda fez diversos filmes inesquecíveis da cinematografia nacional.
— Recebi muitos prêmios. Faltava este. Tenho muita honra de levar o Oscarito para casa — afirmou, oferecendo o troféu a Ítalo Rossi, que morreu recentemente e que foi classificado pela homenageada como o seu maior parceiro de cena.
Por duas vezes, o cinema lotado a aplaudiu de pé.
* Colaborou Vanessa Franzosi
"Recebi muitos prêmios. Faltava este", afirmou
Daniel Feix | daniel.feix@zerohora.com.br
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